Skate adiciona técnico e rotina de treino ao ‘lifestyle’ do novo esporte  olímpico

Skate adiciona técnico e rotina de treino ao ‘lifestyle’ do novo esporte olímpico

Após as disputas da categoria street, o skate voltou às Olimpíadas de Tóquio para os eventos do park. Na noite da terça-feira (3), foi realizada a competição feminina. A masculina acontece no dia 04, no mesmo horário.

Ter um treinador discutindo o que fazer na pista não é algo com o que a maioria dos skatistas, principalmente a geração mais experiente das seleções, está acostumada.

“Não é nada comum. Se enquanto skatista você me falasse que eu teria um técnico, eu não acreditaria. Mas viemos amadurecendo e sentimos que é necessário ter um respaldo na hora da competição. Bolar estratégias, pensar em manobras, entender a competição e o julgamento. Hoje faz uma diferença tremenda”, diz Edgard Pereira, consultor técnico da equipe de park.

Vovô, como Edgar é conhecido, competiu várias vezes com Pedro Barros, principal nome do Brasil no park. Ele admite que no início teve receio sobre como agir para que os skatistas do país entendessem seu papel como treinador.

(Rogério Mancha e Edgard Vovô - Foto: Getty Images)

“A gente teve que vir pelas beiradas, não podia impor. Hoje em dia opino nas manobras, nas linhas, mas a última decisão é deles sempre. No começo nem isso permitiam. O Luizinho falava: ‘Vovô, deixa eu andar de skate, só me acompanha’. Até que eles entenderam nosso papel, que podia ajudar a ampliar a visão”. Luizinho é Luiz Francisco, outro representante do Brasil cotado para uma medalha nos Jogos. 

Além de ter que ganhar a confiança dos skatistas, Vovô se deparou com outro desafio: como aplicar um programa de treinos buscando objetivos específicos e que também fizesse sentido para a dinâmica do esporte e de seus atletas.

“A gente não tinha uma repetição, como nos outros esportes. Ia andar de skate, fazia a sessão e o que rolasse, rolou. Hoje a gente tem planilha e anota a quantidade de manobras que eles acertam diariamente. Trabalha com números, estratégias”, explica Vovô.

“Eles estão competindo com atletas de outros países, que não viveram esse lifestyle do skate e que estão se preparando muito, principalmente fisicamente. A gente tem que estar à altura. Não adianta só falar ‘quero viver o lifestyle, sou skatista’ e chegar na competição, se dar mal e depois ficar puto porque podia ter se preparado”.

Entre os atletas que disputaram as Olimpíadas na última semana, Kelvin e Pâmela Rosa não receberam orientações diretas de Mancha durante a competição. Eles preferiram consultar um ao outro ou pessoas próximas. O medalhista conversou com a esposa e treinadora, Ana Paula Negrão, por telefone antes de levar a prata. Pâmela costuma falar com seu agente.

(Pâmela Rosa - Foto: Getty Images)

“Durante a competição, falei com ela o tempo todo”, disse Kelvin sobre a esposa. Ela é a minha técnica, meu braço direito, esquerdo, perna, tudo. Ela que me ajuda sempre”. O fato de Ana Paula não poder integrar a delegação brasileira em Tóquio levou o atleta a brigar com a confederação.

Questionado se houve um desconforto na seleção por nem todos receberem orientações da mesma pessoa, o presidente da CBSk, Eduardo Musa, refutou:

“Se eu fosse pai, marido ou empresário de uma delas, eu queria que elas tivessem a orientação do Mancha, que para mim é disparado o melhor técnico do mundo. Sabe o Bernardinho no vôlei? O Mancha é vezes cem. Mas existe essa questão de confiança, desses dois skatistas, com as pessoas que estão ao lado deles”.