Mike Tyson e Roy Jones Jr: preocupações, histórias e a exibição

Mike Tyson e Roy Jones Jr: preocupações, histórias e a exibição

A luta exibição entre Mike Tyson e Roy Rones Jr. que parou o mundo na noite do sábado 28 de Novembro, trouxe um alerta de especialistas em relação ao perigos que um combate como o da ocasião pode causar para ambos lutadores.

A idade avançada de ambos e a força do impacto dos golpes preocupam médicos e acende o sinal vermelho em relação a integridade física dos boxeadores.

A força dos golpes e a idade preocupam médicos e especialistas. Um soco pode atingir um impacto de 450 kg no rosto de um dos lutadores. E na categoria dos pesos-pesados o impacto pode ser maior ainda, devido à força dos boxeadores. Mike Tyson tem 54 anos e não lutava desde 2005. Roy Jones Jr. tem 51.

Tyson teve uma preparação pesada para o combate. O americano perdeu 42 kg em seis meses de treinamento. O responsável pelo preparo do lutador foi o brasileiro Rafael Cordeiro, que já ficou no córner de lendas como Wanderlei Silva. Em entrevista, Cordeiro minimizou as preocupações com o combate.

"Ele não é mais um garoto, claro, mas a gente está falando de Mike Tyson. A parte técnica vem conciliada com a forte explosão dele. Pelo estilo dele, Tyson precisa estar bem condicionado. Foram seis meses de treinamento, manoplas, sparrings e condicionamento forte para chegar no dia 28 muito bem preparado", revelou.

(Foto Getty Images)

Mas o duelo bateu recordes de Pay Per View da história das lutas, devido a tamanha ansiedade e curiosidade provocada por um dos grandes confrontos da história a se realizar em um tempo que pouca gente poderia imaginar.

O combate já era para ter acontecido no auge dos dois lutadores, mas as negociações para que esta luta acabasse por acontecer sempre ficaram no quase. 

Sem dúvidas, a década de 90 produziu grandes lendas do boxe mundial. Mas poucos nomes se sobressaíram tanto além do ringue como o de Tyson. Em uma época onde a comunicação e as transmissões televisivas eram muito mais escassas, incomparável com os tempos atuais -, torna-se fantástico remeter ao que cada luta de Mike Tyson provocava nas famílias ao redor de todo mundo. Muitas, se reuniam com  o acréscimo de amigos para, tarde da noite no horário brasileiro, por exemplo, acompanhar as lutas do mesmo, que por vezes, duravam poucos segundos. Mas a adrenalina que o combate gerava e a certeza de ver a história estar sendo escrita em sua frente, valia os poucos segundos que a mesma acabava por durar.

A lenda tornou-se campeã olímpica de boxe com apenas 14 anos de idade. Aos 20, após atuações avassaladoras, tornava-se o mais novo campeão da história dos pesos pesados do boxe. Isso, sem dúvidas, marcava uma grande volta por cima de uma trajetória de vida que tinha tudo para dar errada. Tyson vinha de uma família problemática e já havia sido preso por diversas vezes por conta de pequenos delitos.  O empresário Cus D’Amaro adotou o jovem Mike Tyson, fazendo com que o mesmo direcionasse a sua fúria para dentro do ringue. 

(Cus D’Amaro e Mike Tyson - Getty Images)

Mas os caminhos cheios de altos e baixos seguiram a acompanhar a trajetória de Mike Tyson. Aos 20 anos, era dono do mundo, mas sem estrutura psicológica para suportar tudo que o status alcançado trazia em bônus e ônus. Enquanto seguia avassalador dentro do ringue, a sua vida pessoal voltava a desmoronar. Seu relacionamento com todos aos seu redor era bastante complicado – gerando inúmeros processos e grandes problemas. Isso até demorou a fazer com que seu foco no ringue fosse perdido. Quatro anos depois a conquista mundial,  Mike Tyson foi destronado de forma surpreendente por James Douglas. Meses depois, viu um dos processos virar condenação a seis anos de prisão. Por bom comportamento, cumpriu apenas três anos dentro da prisão.

Alguns meses após a saída da prisão, Tyson seguiu vencendo, mas parecia não ser mais o mesmo das brilhantes 37 vitórias, antes da sua primeira derrota citada. O fundo do poço parecia ter chegado com as duas derrotas sofridas para outra lenda, Evander Holyfield. A última delas, não foi marcada pelo esforço no ringue, mas sim pela patética mordida aplicada na orelha de Holyfield – uma das imagens mais vistas deste milênio. Tyson ainda lutou por mais dez anos, mas em claro declínio físico e técnico. Ao longo de sua carreira, foram 58 lutas e 50 vitórias, sendo 44 por nocaute.

 

A trajetória de Tyson, como citado, ultrapassou as fronteiras dos ringues e por isso, soou como o nome de uma geração. Roy Jones Jr enfrentou problemas mas amenos em sua vida. A maior pressão em sua carreira era em dar continuidade ao legado da família, formada por excelentes boxeadores. Roy Jones Jr, não só deu continuidade a tal legado, como o elevou a patamares que dificilmente serão alcançados. Tudo que pode ser imaginado para a carreira de um boxeador profissional, Roy Jones Jr alcançou. O mesmo colecionou inúmeros recordes e status ao longo de sua carreira.

Sem dúvidas, os pontos mais marcantes em sua trajetória foram ser considerados o boxeador da década de 90, o do uge de seu adversário, por exemplo. Em muitas pesquisas, é visto como o maior lutador de todos os tempos. Fora o primeiro boxeador a iniciar na categoria dos médios e alcançar o título na categoria dos pesados. Fora campeão em todas as categorias que passou até chegar aos pesados. Até hoje, tem os recordes de defesa de títulos, recorde de vitórias em inúmeras categorias pela qual passou, lutador com mais unificações de títulos em sua carreira… Enfim, dentro do ringue, a lenda é chamada de Roy Jones Jr.

Roy Jones Jr prolongou a sua carreira o máximo que pode. O mesmo pendurou as luvas de forma oficial apenas em 2018. É claro, o nível dos competidores enfrentados não eram como de outrora. Afinal, Roy Jones Jr aproximava-se dos 50 anos na ocasião. Mas mesmo assim. dá para dizer que Roy Jones Jr, fazendo jus a sua brilhante carreira, terminou a mesma em alta. Nos últimos treze combates disputados, Roy Jones Jr conseguiu vitórias em doze deles. Foram quatro vitórias em suas últimas atuações, com dois nocautes técnicos conquistados.

(Foto Getty Images)

A suposta vantagem para o seu lado está no fato de, como citado, ter encerrado a carreira a bem menos tempo que seu adversário. Além disso, ter se mantido na ativa, treinando um seleto grupo de novos boxeadores. A sua vida, em teoria, também fora mais regrada que a do seu adversário. Seu impressionante cartel chegou ao fim com um impressionante histórico de 77 lutas disputadas, com 66 vitórias conquistadas. Os holofotes podem estar no retorno do adversário, mas Roy Jones Jr é capaz de se comprovar no ringue.

As casas de apostas deram amplo favoritismo para Mike Tyson. A maioria de suas cotações giraram em torno de 1.44 para a sua vitória. Todos acreditavam que o combate deveria ser muito mais disputado que a diferença nas cotações. Roy Jones Jr tinha muitos predicados em um nível mais elevado que o seu rival. Mais jovem, esteve na ativa há menos tempo… Mas sim, as mãos de Tyson podem derrubar qualquer um. Ainda. Mas com um dos mais belos boxes aplicados, com um cartel invejável, valia arriscar na vitória de Roy Jones Jr, e as casas de apostas dariam por volta de 2.62 em cotações para a vitória desta lenda.

Mas, Andy Foster, dirigente da Comissão Atlética do Estado da Califórnia, tratou de aplicar regras que proibiram sangues e nocautes, além de enfatizar que era apenas um combate de exibição.

Foster garantiu que queria nenhum atleta machucado e a luta foi disputada em oito rounds de três minutos, com luvas de 12 onças, sem equipamentos na cabeça e também sem a presença de árbitros para pontuar o duelo. Por conta da pandemia do novo coronavírus, apenas pessoas essenciais para que o evento aconteçesse estiveram presentes na Dignity Health Sports Arena, em Los Angeles. O público só pode assistir por pay-per-view.

Pelas estatísticas da Compubox, Tyson acertou 67 golpes contra apenas 37 de Jones Jr. Destes, 57 foram considerados golpes potentes, contra apenas 28 do rival.

A precisão também impressiona. Roy Jones até deu mais socos (236 a 193), mas Tyson foi muito mais certeiro (35% contra apenas 16%).

Mike teve uma área preferida: os golpes no corpo. Foram 35 conectados por ali, o que minou ainda mais o gás do adversário, que terminou o combate completamente ofegante.

"Agora entendo por que falam que tudo que ele toca, machuca. Tudo machucou", admitiu Roy Jones Jr. "Sim, os golpes no corpo tiveram um papel muito importante em me deixar cansado", completou.

"Mas você aguentou! Eu sei que o atingi com força, mas ele aguentou tudo", ainda brincou Tyson.

Apesar de toda a diferença nos números, a luta foi declarada em um empate que não escondeu muito ter sido combinado.

O combate sequer foi julgado pela Comissão Atlética da Califórnia, mas teve uma pontuação extraoficial dada por três ex-campeões mundiais: Vinny Pazienza, Christy Martin e Chad Dawson.

Vinny deu vitória para Jones, Martin pontuou a luta para Tyson e Dawson decretou a igualdade.