Nova gestão quadruplica valor da Alpargatas

Nova gestão quadruplica valor da Alpargatas

Alpargatas, dona da Havainas e da Osklen, vive uma revolução silenciosa desde 2017, quando Itaúsa e Cambuhy Investimentos, a gestora de recursos que conta com patrimônio da família Moreira Salles, se uniram para comprar o controle da companhia do grupo J&F, holding da família Batista que é dona da JBS.

Antes do famoso Joesley Day, que envolveu o empresário Joesley Batista e o ex-presidente Michel Temer, o valor de mercado da Alpargatas na B3 girava entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões.

Na sexta-feira, dia 11, a empresa terminou a semana avaliada em R$ 22,2 bilhões. Portanto, o valor foi multiplicado por quatro ao longo dos últimos três anos, em uma mudança sem grandes alardes. No começo de 2019, a gestão da empresa também foi trocada. Saiu Marcio Utsch, após 15 anos à frente do negócio, e entrou Roberto Funari. A ação da empresa bateu valor recorde durante a pandemia.

Desde que Itaúsa e Cambuhy assumiram, a decisão foi dar foco ao que os novos donos consideravam como área nobre dos negócios. Roberto Furnari conta como foi reposicionamento desde a mudança de controle. Todos os negócios que não eram considerados marcas premium ou versáteis, que conversassem com a Havaianas foram vendidas.

A companhia se desfez da operação de tecidos na Argentina, das licenças das marcas Topper, Rainha, Sete Léguas e Mizuno. No total, arrecadou R$ 574 milhões com as transações, realizadas de 2018 até o terceiro trimestre deste ano, quando passou à frente, para a Vulcabrás, a operação da marca Mizuno. Todas essas operações, para além de Havaianas e Osklen, respondiam por 25% da receita em 2018 e 36%, em 2016, conta Funari.

(Foto Alpargatas)

De Janeiro a Setembro de 2018, a receita líquida consolidada da empresa foi de R$ 2,6 bilhões. Neste ano, nesse mesmo intervalo, o total consolidado somou R$ 2,26 bilhões, o que significa quase estabilidade frente aos valores de 2019 do mesmo período. Olhando pelo retrovisor, significa também que mesmo com pandemia, a empresa está conseguindo ampliar receita e rentabilidade (nesse caso, principalmente, no Brasil ) de forma a também compensar operações e licenças vendidas.

O foco agora é aumentar receita e margem com novos produtos e, ao mesmo tempo, o Ebitda (sigla em inglês para Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization ou em português, Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) por par de havaianas, e explorar novos mercados. Potencializar a marca fora do Brasil é algo que está no discurso de Itaú e Cambuhy desde o dia 1 da aquisição.  

Após as havaianas terem caído no gosto da classe AB e terem virado hit de exportação a partir da década de 90, a companhia viveu um período de longa estagnação estratégica, ainda que com o glamour do nome e da revitalização da marca.

O mercado global de chinelos (flip flops, como o setor chama) é de 900 milhões de pares, o que equivale a U$ 18 bilhões, segundo estimativa da Alpargatas. Esse valor considera apenas produtos acima de U$ 10,00 por par, conforme dados apresentados pela Alpargatas aos investidores no encontro realizado na semana passada. A companhia procura se posicionar no intervalo entre U$ 22,00 e U$ 25,00 por par.

A aposta da companhia está centralizada em Europa, Estados Unidos e China, onde o par de havaianas ronda a casa dos U$ 23,00 e o volume total de vendas da região alcança U$ 11 bilhões. Se conseguir uma fatia de 10% nesse espaço, terá uma receita anual de U$ 1 bilhão fora do Brasil. 

Embora não conste oficialmente do discurso da companhia, que passou por uma limpeza no portfólio de marcas, a aposta no mercado é que marcas que se encaixem no conceito podem ser compradas. Um dos motivos dessa crença é o caixa cheio da empresa.

A Alpargatas tem mais dinheiro guardado do que dívida, mais de R$ 300 milhões de saldo positivo. Terminou Setembro com R$ 1,99 bilhão em recursos aplicados, após ter gerado mais de R$ 400 milhões ao longo do ano, para uma dívida bruta de R$ 1,67 bilhão.